Entrevista: Silvano Calixto (Picador)

Silvano Calixto 

O blog tauromáquico Quiebros e Chicuelinas está de volta depois de algum tempo de interregno, e logo com uma entrevista a um Picador com o carnet  de Novilhos/Toiros e que tem de dia para dia evoluído nessa função de seu nome Silvano Alexandre Calixto, 33 anos, natural da Nazaré (terra de aficíon e corridas de toiros) e que de forma muito aficionada nos concedeu uma entrevista exclusiva ao nosso blog, quisemos saber mais um pouco sobre este aficionado que leva a arte do toureio dentro de si picando toiros como falando ao nosso blog, montando cátedra.


Entrevista: Bruno Paparrola (Quiebros e Chicuelinas)

Fotos: Frederico Henriques e D.R.


Q.C.- Desde quando lhe surgiu o gosto pela Tauromaquia?

S.C.- O meu interesse pela tauromaquia foi desde sempre, porque os meus pais, os meus tios, tinham por hábito aquando das Festas no Ribatejo e nas datas mais importantes dar por aquela região uma passagem, via-mos as largadas, as brincadeiras na rua e terminávamos sempre por a ir uma Corrida de Toiros, e tenho presente muito a Praça de Toiros "Palha Blanco" em Vila Franca de Xira, uma Corrida Picada na Praça de Toiros de Coruche onde toureavam o Maestro Francisco Ruiz Miguel, Juan António Ruiz "Espartaco" e Victor Mendes, das corridas de toiros na Nazaré (sua terra natal) e lembro-me sempre desse ambiente de ver o Mestre Luís Miguel da Veiga tourear em Vila Franca na década de 90 e então sempre me senti vinculado, o meu pai Abel Calixto ajudou na altura a formar o agora extinto Grupo de Forcados Amadores da Nazaré e tinha por hobbie também montar a cavalo com o seus amigos e de vez em quando lá soltavam uma vaca e daí o meu interesse e fascínio pelos toiros e cavalos.


Q.C.- O Silvano é homem de Toiros e Cavalos, tendo passado grande parte da sua vida ligada à parte equestre, e mais recentemente ao mundo do Toiro, foi aluno da Escola José Falcão em Vila Franca de Xira e actualmente tem a carta de Picador de Novilhos/Toiros.
O porquê de querer enveredar pela Sorte de Varas ?

S.C. - Isto começou de forma engraçada, um dia em que íamos à Feira de Outubro em Vila Franca de Xira, tinha um toalhão de casa de banho de cor encarnada e eu sem que ninguém soubesse fiz uma mini-muleta, escondi no carro do meu pai milagrosamente sem ninguém ver, chegámos a Vila Franca de Xira fui buscar a minha suposta muleta para o tourear os toiros dos madeiros para fora e nesse dia pedi ao meu pai para ingressar na Escola de Toureio José Falcão porque queria ser Matador de Toiros muito pelas memórias que tinha nessa altura da Tauromaquia.
Não foi possível enveredar esse caminho devido aos medos que os meus pais tinham da profissão, sempre descartaram essa possibilidade devido também às distâncias geográficas e à vida que os meus pais tinham na altura, em 2012 face a uma lesão grave na coluna foi-me impossível continuar nos cavalos como cavaleiro de obstáculos e falando com alguns amigos que me indicaram que devia seguir o caminho de Bandarilheiro e realmente ingressei na Escola de Toureio José Falcão, sem estar inscrito por ser maior de idade e o Mestre Victor Mendes e o Sr.José Manuel Raínho receberam-me da melhor forma, e foi onde tomei os primeiros contactos com o meio mais profissional na expectativa de me tornar Bandarilheiro profissional.


Q.C.- Quais as suas maiores referências como Picador ?

S.C.- Como referências posso enumerar a familía Bernal, família Quinta, Tito e Alberto Sandoval, Rúben Sanchéz Moreno, João Blanco, Pedro Morales "Chocolate", Juan Melgar, Hélder Nunes (a 1ºvaca que picou juntou a este último),  Pedro Iturralde, José António Barroso, Francisco Pons "Puchano", Israel de Pedro, José Doblado, uns pela forma como toureiam com o cavalo e outros no momento dos puyazos, são profissionais do mais altíssimo nível e todos têm "material" se assim se pode dizer para estudar.

Q.C.- Como se define na Sorte de Varas?

S.C.- Sou uma pessoa calma por natureza, gosto de estar concentrado e atento, quando sai uma vaca ou um Toiro num tentadero procuro perceber o que tenho de fazer, o entender os terrenos do animal e procurar tourear com o cavalo e na altura da execução do puyazo tento ser justo com o oponente e tourear o melhor possível.

Q.C.- O Silvano já participou em tentaderos realizados nalgumas ganadarias.
Qual a sensação de participar nesses tentaderos ?

S.C.- Foram muito boas as sensações, em relação à primeira vaca que piquei no ano de 2018, lembro-me que na manhã em que piquei pela primeira vez uma vaca fomos buscar um cavalo que pertenceu à quadra da Monumental de Las Ventas em Madrid (Espanha), um cavalo muito grande de nome "Jerónimo" senão me falha a memória e surgiu a oportunidade de picar uma vaca. Quando subi ao cavalo e vi a vaca procurei fazer as coisas da melhor forma, e penso que as coisas correram bem tanto que quando se deu o jantar ao final da tarde depois do tentadero recebi umas palavras muito bonitas da parte do senhor ganadero, da sua filha, do Hélder Nunes com quem partilhei tentadero nesse dia e senti que deveria ter começado mais cedo nisto, senti-me muito bem realmente.


Q.C.- O matador de toiros português António João Ferreira tem solicitado de quando em vez a sua participação nos tentaderos em que tem actuado, tem sido importante na sua evolução como Picador?

S.C.- Sem dúvida, tem sido ele que me tem ajudado bastante não há quaisquer dúvidas, falei com ele um dia em que estávamos a almoçar em Alcobaça e em que concedeu uma entrevista a órgão de comunicação social, eu propus-lhe a ideia de começar a participar nos tentaderos em que o António João Ferreira participasse ideia essa que foi aceite pela parte dele, tendo sido o António a fazer a ponte até ao picador de toiros Hélder Nunes. Falamos muito um com o outro tanto das coisas que ele faz como as que eu faço e sempre que possível ele contacta-me, e vou picar os tentaderos que são possíveis fazer e realmente sinto-me grande apoio da parte dele. Entendemo-nos bem, a opinião dele é muito válida visto ele ter muita experiência sendo um toureiro que toureia e tenta muitíssimo bem num conceito clássico que me fascina bastante e entende o toureio de uma forma muito semelhante àquela que eu sinto, sendo assim a ajuda que ele me dá e as opiniões tidas em conta.


Q.C.
- "Finita" é o nome da sua égua que o Silvano utiliza para a Sorte de Varas, fale-nos um pouco dela e da sua história?

S.C.- Uma altura eu trabalhava aqui perto num clube hípico e senti a necessidade de adquirir um cavalo, para ser uma ferramenta a mais que eu tinha para exercer a função de Picador e assim foi andei muito tempo à procura de um cavalo deste género, não tendo sido fácil de encontrar porque não haviam, eram muito velhos ou a saúde não estava adequada e então surgiu um dia em que um amigo meu me mandou umas fotos e a minha intuição disse-me que era este o animal. Acabei por adquirir a "Finita" sem a ver praticamente in loco e só através de fotos, quando a égua chegou foi uma surpresa porque estava à espera que chegasse de outra forma e tive os cuidados veterinários normais portanto na parte dentária, desparasitações, vacinações, tratar do registo e logo nesse mesmo dia comecei a trabalhá-la sem sequer ela estar desbastada.
E num mês e meio derivado à sua evolução comecei a aparelhá-la com os utensílios necessários para protecção de um cavalo de picar, as braguetas, os peitos, os manguitos, torná-la (tapar olhos e ouvidos), e no primeiro dia que a visto ao chegar a casa liga-me o matador de toiros António João Ferreira que no dia seguinte iria tentar em campo aberto duas vacas tendo-me perguntado se estaria interessado em picar essas mesmas, pus a "Finita" à tourinha e no dia seguir lá fomos ao tentadero dando-se o debute da "Finita" numa ganadaria com procedência de encaste Murube) e foi extrordinário.

Q.C. - Perspectivas para o futuro?

S.C. - As perspectivas passam pelo debutar como Picador, comecei nesta vida em 2018 e o passo a seguir é para já o treino no campo e conforme as coisas irão correndo eu penso que possa debutar entretanto e depois daí é picar as trinta novilhadas regulamentares para puder ter o carnet de Picador de Toros, e então chegar à praças de maior importância possível com as condições devidas, não ir "empurrado com a barriga" e participar nas principais feiras taurinas como a de San Isidro em Madrid, Feria de Abril em Sevilha, Fallas em Valência, andar por toda a parte mas com respeito pelos passos necessários que se têm que dar para atingir altos patamares.


Q.C.- Madrid, 24 mil pessoas é esse o seu grande objectivo? 

S.C. - É também (risos), acima de tudo primeiro fazer as coisas bem às ordens dos toureiros em que estarei inserido na quadrilha, executar bem a sorte de picar e se pudesse ser ovacionado tanto melhor (risos). Gostava muito de lá passar certamente, por aí e por outras praças que referi atrás na entrevista, se bem que ainda estou numa fase muito embrionária penso um dia lá chegar.

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